Comunidade Judaica do Porto pede à União Europeia que investigue caso de antissemitismo soviético em Portugal

Comunidade Judaica do Porto pede à União Europeia que investigue caso de antissemitismo soviético em Portugal

A Comunidade Judaica do Porto (CIP/CJP) pediu à União Europeia uma investigação internacional imparcial relativa a “uma ação antissemita de grande escala que teve lugar em Portugal com uso de criminosos que pretenderam difamar a comunidade mais forte do país, destruir as elites judaicas, travar a afluência de cidadãos israelitas e acabar com a lei que concedia a nacionalidade a judeus de origem portuguesa.” As palavras são do Presidente da Comunidade, Gabriel Senderowicz. “Os motivos do pedido prendem-se com a necessidade de investigar quem ordenou a ação policial de março de 2022 contra a Comunidade e quem foram os assaltantes, homicidas e condenados que tentaram incriminar e eliminar judeus do Porto. Existe também a necessidade de salvaguardar a honra de vultos da nação portuguesa que certamente serão os primeiros a ter interesse numa investigação independente.”

Em setembro, o tribunal superior afirmou que as indiciações criminais contra a Comunidade Judaica do Porto estavam “assentes em nada”, algo que a polícia do Porto já tinha afirmado em 2021. Senderowicz afirma que “policiais de Lisboa invadiram a sinagoga e o museu judaico e prenderam o rabino com base em denúncias anônimas que imputavam a este atos de corrupção com duas pessoas que não conhecia (uma certificada pela comunidade de Lisboa, outra pela comunidade de origem) e com conservatórias que nunca visitou. Foram procuradas malas de dinheiro na casa da Vice-Presidente (neta do Dreyfus português), uma empresa de construção civil de um membro da comunidade era suspeita de emitir certificações de sefardismo e um comunicado oficial das autoridades espalhou a notícia de que a comunidade também estava indiciada por tráfico de droga.”

O membro do conselho para os assuntos jurídicos, David Garrett, afirma que a investigação da União Europeia é necessária. “Se as denúncias anônimas caluniosas não foram feitas por condenados a pedido de agentes de Estado, se a tentativa de eliminação do primeiro subscritor de uma petição ao parlamento foi da autoria de um inimputável que escolheu o seu alvo ao acaso, se não existe relação entre os arrombadores profissionais que furtaram o servidor de uma advogada da Comunidade (no Porto) e os computadores da presidente do SIRESP (em Lisboa), então tudo não passou de uma coincidência milagrosa e a comunidade não deve manter-se alarmada. Se, pelo contrário, a investigação concluir que agentes de Estado usaram criminosos e toda a imprensa contra uma organização religiosa e cultural (a Comunidade Judaica do Porto), então poderemos afirmar que o que eles pretenderam foi destruir elites nascentes ligadas ao florescimento da vida judaica. Neste caso não se pretendeu mover um processo contra meros suspeitos da prática de ilegalidades. Contra estes atuaria o Estado de direito, usar-se-iam meios legais de obtenção de provas, não se usaria a polícia como instrumento e muito menos se utilizariam assaltantes noturnos, homicidas e fabricantes de denúncias anônimas”.

Por sua vez, Débora Elijah, dirigente da comunidade e presidente da Keren Hayesod Portugal explica que a base do antissemitismo soviético era “em primeira linha a utilização de delinquentes e da imprensa para difamar as comunidades judaicas mais relevantes do ponto de vista judaico, associá-las a negócios imorais e depois julgar os rabinos por corrupção fictícia. As comunidades fracas ligadas ao poder instituído eram mantidas para servir de propaganda, usadas como instrumento, como o meu pai foi usado para tocar violino no campo de Theresienstadt.”

Elijah explica o que aconteceu em Portugal: “Na ânsia de destruirem a forte comunidade do Porto e de pouparem a de Lisboa, os antissemitas inventaram ligações perigosas entre “advocacia, Parlamento, negócios, certificações e judeus russos”. Significativamente, as ligações perigosas não foram imputadas à Comunidade judaica de Lisboa (CIL), onde uma dirigente colaborou com o parlamento na redação final da lei dos sefarditas, assinou certificados de sefardismo, era dona de um dos escritórios de advocacia que mais processos de nacionalidade tramitou em Portugal e tinha relações diretas com Conservatórias quer como advogada, quer como dirigente da CIL, uma organização imobilizada e com pouca vida judaica, que certificou muitos cidadãos russos e que obteve mais receitas em 2022 do que a Comunidade Judaica do Porto ao longo de sete anos de trabalho. As ligações perigosas foram imputadas à Comunidade forte que se pretendia destruir, a CIP/CJP, que pedira ao governo uma comissão internacional de certificação, que não tinha relações especiais com Conservatórias, que não tinha entre os seus membros quem exercesse a advocacia com a lei da nacionalidade, que poucos judeus russos certificou (e sempre apoiada em certificados de origem emitidos por entidades reconhecidas pelo Grão Rabinato de Israel) e que ao longo dos anos criou novas sinagogas, museus, filmes, restaurantes kosher e uma rede de solidariedade.

Também Vivian Groisman, a responsável pelo arquivo de sefardismo da Comunidade Judaica do Porto, que em março viu entrar no espaço um grande número de policiais ansiosos para apreenderem tudo, refere que presenciou “um filme que quebrou a minha vontade de viver em Portugal. Uma investigação internacional deve ser feita para segurança da nossa Comunidade e por uma razão de transparência é do interesse de pessoas impolutas como a ex-Ministra da Justiça (que produziu um regulamento que matou a lei dos sefarditas em termos práticos, que recolheu denúncias anônimas e enviou-as para investigação por parte de entidades cujos responsáveis ela nomeou, e que despediu a presidente do SIRESP em cuja casa foram roubados os computadores três dias depois) e o ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros (que por uma “questão-palestina” encabeçou a equipa de destruição da lei dos sefarditas e que, no parlamento, em 2020, reduziu os efeitos positivos da lei a algumas visitas de turistas e afirmou premonitoriamente que, se a assembleia não agisse, iria ser a “opinião pública” a manifestar-se).

Groisman conclui que “após um ano desde a invasão do Museu Judaico que presenciei atônita, as únicas malas de dinheiro que apareceram foram no parlamento europeu para benefício de países árabes e muçulmanos e presumivelmente financiamento de partidos políticos nacionais e prejuízo das comunidades judaicas e israelitas.