Começou Sucot. Depois de Rosh Hashaná e de Yom Kippur - o Ano Novo e o Dia do Perdão -, os judeus comemoram a chamada festa das cabanas. O presente mês hebraico de Tishrei é intenso em termos de celebrações.
Durante uma semana, esta festa relembra as condições precárias que o povo judeu enfrentou, durante quarenta anos, no deserto, depois de ser libertado da escravidão no Egito e antes de entrar na Terra Prometida.
Em Sucot, os judeus deixam de residir inteiramente nas suas casas para se acomodarem em cabanas frágeis, cobertas de folhas, chamadas de sucá, onde dormem e fazem as refeições. Nem sempre as condições práticas, atmosféricas e de segurança permitem o integral cumprimento da tradição, mas pelo menos as refeições básicas são passadas na sucá.
Nesta festividade os judeus também recitam preces com quatro espécies de plantas que crescem em Israel: luláv (ramo de palmeira), aravá (ramo de salgueiro que cresce perto da água), hadás (ramo da planta aromática murta) e etróg (um fruto cítrico semelhante ao limão).
No fim da festa de Sucot, há duas outras celebrações, em dois dias diferentes na diáspora: Shemini Atzeret e Simchat Torá. A primeira é uma continuação de Sucot, por mais um dia, para demonstração da alegria no cumprimento do específico dever. A segunda, Simchat Torá, é a data em que se comemora o término da leitura dos cinco livros que compõem a Torá.
A origem de Simchat Torá, na qual toda a congregação dança com os rolos da lei, remete ao tempo em que os judeus estiveram exilados na Babilónia, onde passaram a ler o livro sagrado em porções ao longo do ano e, no final, celebravam. O fim, na prática, também representava, e representa, o reinício.
A felicidade que se vive em Simchat Torá, nas sinagogas e no Kotel Hamaaravi (o Muro das Lamentações) toca até na alma dos mais sérios e contidos. Até em alguns campos de concentração houve quem tivesse encontrado forças para dançar nesta data. Eis a razão pela qual os judeus continuam vivos, pese embora sempre enfrentem perigosos antissemitas em todas as épocas.
Com este artigo, termino um ano de publicações sobre as datas mais relevantes do calendário hebraico. Escrevi sobre Chanuká, Tu B"Shevat, Purim, Pessach, Lag BaOmer, Shavuot, Tishá B"Av, Rosh Hashaná, Yom Kipur e, hoje, Sucot.
A minha intenção foi construtiva. O judaísmo faz parte dos valores intrínsecos de Portugal, assim como da própria cultura portuguesa. Não é correto ver os judeus como estranhos em território nacional. A presença judaica no país é muito anterior à fundação da nacionalidade. Shalom.