Não sou especialista em temas judaicos, nem especialista em assunto nenhum sobre judaísmo, e confesso, apenas tiro o chapéu aos que dominam com elevado saber e conhecimento essa matéria.
Um cartão-de-visita desse género - "Especialista em temas judaicos" -, sem a pessoa estar minimamente preparada para tal fim é uma fraude imerecida para o leitor. Não basta ser judeu para nos apresentarmos em peritos dessa matéria.
Sou jornalista. A minha actividade principal e o pão que levo à boca chega-me da escrita. Tive bons mestres em redacção. Gente que conhece palavras e pessoas por dentro. Sabem de liberdade e de valores sem os quais nenhuma notícia poderia sair da gráfica.
O anti-semitismo é um campo de batalha. Purim e Chanucá, que o digam; Haman queria matar judeus. Antiochus queria matar o judaísmo.
O anti-semitismo, que é uma realidade infeliz e mais antiga que o tempo, não pode, por motivo algum, ser tratado com pinças de interesses. Portugal não escapa a esse terror. Essa é que é. Basta ver os comentários a propósito de artigos onde judeus, judaísmo ou Israel são o centro do artigo. Basta também ler colunistas que espelham lente anti-semita ou jornalistas que enxergam de um só lado. Basta, e desculpem, a franqueza, a ideia do dinheiro sempre colada ao judeu.
Os punhos do rabino da Comunidade Judaica do Porto, Daniel Litvak, foram algemados no aeroporto Francisco Sá Carneiro. Quinta-feira, 11 de Março. Pressupunha-se que iria fugir. Com malas, que continham tudo, menos roupa. Milhões. Uma fortuna. O rabino iria fugir para Israel, via Alemanha, com milhões dentro das malas. A casa da vice-presidente da Comunidade Judaica do Porto foi vasculhada pente fino com a finalidade de encontrar malotes de oligarcas russos. Dinheiro. A Sinagoga também não escapou das buscas. Procura-se o mesmo: vil metal. Notas. Muitas. Muitas.
Pelo que sei, denúncias anónimas reuniram o suficiente para que esta operação pudesse ter acontecido. Depois, é o que sabemos e o que anti-semitas se babam: exposição intensa de pessoas ligadas à comunidade; rabino, presidente, vice, museólogo e amigos da comunidade. Como eu.
Denúncias anónimas, sem nome e sem cara e sem carácter, nos anos trinta mataram a honra do capitão Barros Basto, fundador Comunidade Judaica do Porto, avô da vice-presidente. A história repete-se. É nossa obrigação termos acções para responder ao anti-semitismo. Esse é substantivo. Anti-semitismo.
O ódio aos judeus vive enraizado na Europa. A imagem do judeu como o assassino de Jesus conduz ao ódio e à suspeita. Da Inquisição à Alemanha nazi o caminho dos abutres fez-se fácil. Não devemos tremer, tão pouco suavizar ou atribuir discursos metafóricos pautados por simbolismos, que para o caso tem a mesma importância que um casaco de peles ao meio-dia no deserto.
Os milhões de euros ou de dólares não apareceram. O rabino Litvak continua sem passaporte. A lei da nacionalidade, outrora histórica, a partir do momento que se certificou milionários como Patrick Drahi e Roman Abramovich, passou a estar em cheque. E morre. Mal. Morreu mal.
Há colunas que não caem. A sinagoga Mekor Haim mantém-se em plena atividade. Cheia. Minian às dúzias há oito anos consecutivos. Juventude. Restaurante Kosher. Turistas. Museu Judaico. Filmes. Cinema. Tzedaká para o mundo inteiro. O Museu do Holocausto com filas indetermináveis.
A história e a verdade, não obstante não estarem sempre de mãos dadas, há um momento que a página vira para contar como é que realmente foi. É esse momento que conta, não o que é contado por cretinos e falsos "especialistas em temas judaicos".