No ano do centenário da Comunidade Judaica do Porto, fundada em 1923, a organização está distribuindo um livro com a sua história para governos de países, organizações supra-nacionais, universidades e bibliotecas em todo o mundo, no qual afirma que o processo iniciado pelas autoridades portuguesas no ano passado “morreu antes de nascer e cedo ou tarde terá de merecer uma investigação internacional. A Comunidade declara oficialmente o fim do lastimável processo que só foi possível com grande corrupção de Estado.” O livro pode ser baixado gratuitamente aqui.
O Presidente da Comunidade, Gabriel Senderowicz, lembra que "a Sinagoga, o Museu Judaico e a casa da neta do ´Dreyfus português’ foram espezinhados e o Rabino foi humilhado em todo o mundo com base em denúncias anônimas que o acusavam de ter sido corrompido por dois bilionários que ele não conhecia, de dominar Conservatórias que nunca visitou e de praticar furtos tecnicamente impossíveis. Em setembro, o Tribunal da Relação declarou que estas suspeições estavam assentes em nada, mas ninguém pediu desculpa à Comunidade. Recomendo especialmente a leitura das páginas 30 a 49 do nosso livro.”
A Polícia Judiciária do Porto já tinha concluído, em 6 de outubro de 2021, que valia zero a conveniente denúncia anônima contra a CIP/CJP enviada ao Parlamento no ano de 2020: “A denúncia apresenta-se demasiado genérica e não fornece elementos suficientes que permitam sustentar uma notícia de crime. (…) Não nos é possível emitir qualquer juízo quanto à idoneidade dos certificados que atestam a descendência de judeus sefarditas portugueses, porquanto não obtivemos acesso aos meios de prova e documentação em que os mesmos se baseiam e ainda por não estarmos dotados dos especiais conhecimentos históricos e de genealogia necessários para tal análise.”
O livro revela que, face à inexistência de quaisquer provas contra pessoas e instituições, o novo ano iniciou-se “com assaltos, praticados durante a noite, em gabinetes e residências de advogados e da ex-Presidente do SIRESP. Uma associação criminosa promoveu estes furtos realizados num país europeu no ano de 2022. Foram usados ladrões noturnos especializados no arrombamento de portas” e produzidas “novas denúncias anônimas em cooperação com doentes mentais e com condenados por difamação.”
Intitulado “Dois Milênios de Comunidade Judaica do Porto, Cronologia 1923-2023”, o livro agora publicado explica que o processo denominado “Porta Aberta” foi uma orquestração de agentes do Estado português, com mistura dos poderes executivo, legislativo, judiciário e da imprensa, para destruir a “lei dos sefarditas”, rejeitar a grande afluência de cidadãos de Israel, declarar como suspeitos todos os judeus bilionários que pediram a nacionalidade portuguesa e difamar a única comunidade judaica forte em Portugal numa base de antissemitismo soviético e inquisitorial.
“Há indícios aviltantes de uso do aparelho judiciário para fins políticos – pode ler-se no livro –, trocas de favores entre indivíduos de elites medíocres, teorias da conspiração mirabolantes, tentativa de eliminação física de um jovem judeu francês, pelo menos três assaltos noturnos praticados por ladrões a escritórios de advogados e casas particulares, falsas acusações de tráfico de droga e de esquemas com a Rússia, e uso de denúncias anônimas fabricadas por agentes do Estado, indivíduos com passagens por hospitais psiquiátricos e condenados por crimes contra a honra de pessoas, tudo isto articulado com uma campanha mediática assassina levada a cabo por meia-dúzia de jornalistas. Ninguém escapou a esta espécie de purificação. Dos líderes religiosos aos seculares, passando pelo museólogo e pelo porteiro, toda a gente na Sinagoga do Porto foi gravemente atingida na sua reputação e honorabilidade.”
A obra narra detalhadamente alguns factos “que a história sempre revelou: união dos poderes do Estado e associados contra os altos dignitários da comunidade judaica, perseguição dos benfeitores do povo de Israel, difusão em massa de antigos mitos antissemitas, associação dos judeus ao dinheiro e a truques, tácticas inquisitoriais de um novo “clero” com meios para fazer caçadas em massa, campanha de difamação estendida incessantemente durante meses, mobilização da opinião pública por todos os meios, utilização de gatunos encartados e de desequilibrados para a incriminação de alvos pré-definidos e silenciamento absoluto de quaisquer obras positivas da comunidade judaica a abater, incluindo o melhor Yom Kippur da Europa, o museu mais visitado de Portugal e o filme mais internacionalmente premiado da história do cinema português.”
Senderowicz diz que a Comunidade não vai esperar uma década até que tudo esteja esquecido. “A investigação já dura 1 ano. As únicas malas de dinheiro conhecidas durante este período foram entregues a socialistas do Parlamento Europeu para beneficiarem certos países árabes e muçulmanos, uma espécie de "questão-Palestina" que provavelmente envolve prejuízos para a comunidade judaica e israelita em geral e financiamentos de partidos políticos nacionais.”
Em Agosto, a Comunidade Judaica do Porto enviou uma queixa à Procuradoria Europeia (que pode ser baixada gratuitamente aqui) com o patrocínio legal da European Jewish Association, organização que representa comunidades judaicas desde Portugal até à Ucrânia. Com sede em Bruxelas, a EJA já antes tinha escrito ao Presidente da República português lamentando os “comentários que se referem à comunidade judaica como uma “máfia dos passaportes” que são vendidos “para quem estiver disposto a pagar por isso”. Estes comentários jogam com os instintos mais básicos do antissemita e simplesmente reaquecem, para o público moderno, o tropo do judeu "faminto por dinheiro e sem princípios". A EJA lembrou ainda que “alguns líderes de opinião portugueses, que já estiveram envolvidos em incidentes antissemitas de grande repercussão, têm contribuído para este debate.”
Em novembro, a Assembleia da República deixou um desafio aos jovens do país, pedindo-lhes para darem ideias para as comemorações dos cinquenta anos do 25 de abril. No Porto, 44 estudantes judeus franceses escreveram ao Parlamento sugerindo uma exposição dedicada à "Operação Porta Aberta" e instando o Estado a nunca mais cometer graves ilegalidades. No dia seguinte, um pneu do carro do primeiro subscritor da petição foi esfaqueado e deixado prestes a rebentar. A seguir ao jantar, o jovem tomou a auto-estrada e "milagrosamente o pneu não estourou", disse o visado ao The Portuguese Jewish News. O jovem apresentou queixa na polícia e referiu ao jornal que "esta ocorrência é altamente suspeita", podendo ser obra de “uma rede criminosa para me silenciar ou mesmo para me matar através de um acidente fatal, porque em 2022 uma conspiração antissemita contra a Comunidade do Porto fez uso de pessoas condenadas por vários crimes e de assaltantes profissionais para arrombar escritórios de advogados e casas particulares".
O livro que a Comunidade Judaica do Porto está agora a distribuir revela uma carta de solidariedade do Presidente de Israel, Isaac Herzog, onde este ressalta "o quão doloroso pode ser o sentimento de isolamento e vulnerabilidade para as comunidades judaicas ao redor do mundo. Não há dúvida de que o antissemitismo, em qualquer forma, é um fenômeno que nenhuma sociedade justa pode aceitar. Nós, no Estado de Israel, estamos totalmente comprometidos com a segurança e o bem-estar dos nossos irmãos judeus em todo o mundo, bem como com uma realidade global em que o ódio e o preconceito não têm lugar.”
O Estado Judeu, segundo o livro, “viu serem atacados, avacalhados mesmo, nos jornais portugueses, alguns dos seus cidadãos mais proeminentes nos campos da inovação, empreendedorismo, espectáculo, segurança, desporto, serviço à causa pública e filantropia social. Honestas famílias de israelitas da Europa, Eurásia, Ásia e América foram brindadas diariamente, por meses, com graves insinuações de fraudes na obtenção da nacionalidade portuguesa, num discurso eivado de termos como criminalidade graúda, fortunas mal explicadas, subornos, Mossad, canábis, truques de Wikipédia e outras ofensas similares.”
A Comunidade Judaica do Porto afirma que “apesar de apenas 5% dos candidatos possíveis terem logrado obter a nacionalidade portuguesa por via das “lei dos sefarditas”, o nome da “Operação Porta Aberta” sugere uma avalanche hebraica no país". Foi neste clima de exageros e assassinatos cívicos de pessoas indesejadas que o Governo português publicou um regulamento que destruiu a lei em termos práticos. O livro faz uma “tradução personificada” do novo regulamento, na sua parte mais chocante: “Mostra-nos o testamento com cinco séculos que um dos teus 524.288 octadecavós deixou para a posteridade antes de morrer de desgosto por ter visto serem destruídos o edifício onde residia, a judiaria no seu todo e o sagrado cemitério judaico onde repousavam os seus ancestrais.”
No final da introdução da obra, a Comunidade afirma que no dia 25 de abril de 2024, a data que marca o cinquentenário da democracia em Portugal, vai exigir do Estado português respostas para as seguintes questões:
“- Quem ordenou a operação policial de março, “assente em nada” segundo o Tribunal da Relação?
- Quem tentou eliminar um jovem judeu francês e porquê?
- Quem assaltou a residência da ex-Presidente do SIRESP para furtar dois computadores?
- Quem assaltou o escritório de uma advogada portuense para roubar o servidor de onde recolheu informações pífias?
- Quem assaltou a residência de uma advogada de sobrenome "suspeito" e porquê?
- Quem orquestrou e usou denúncias de difamadores condenados?
- Quem orquestrou e usou indivíduos com passagens em hospitais psiquiátricos?
- Quem liderou a “estratégia de comunicação” contra a Comunidade judaica mais forte de Portugal e a "lei dos sefarditas"?
- Quais os nomes das personagens que “distribuíram o jogo” pela comunicação social?
- O que significa "uma questão-Palestina"?”