Shalom alechem.
A Comunidade Judaica do Porto considera que o “Expresso” não deveria ter publicado o texto referido, uma vez que o mesmo dissemina um discurso antissemita que pode contribuir para a promoção da discriminação e do incitamento ao ódio e à violência contra a comunidade judaica.
Cremos que não se pode publicar, nem em forma de opinião, um artigo que defende que Israel está a “matar muçulmanos só por serem muçulmanos”, que está a “usar a religião como um argumento válido para matar inocentes”, que “nada justifica dizimar um povo só porque têm esta ou aquela religião”, que existe “preferência pela religião judaica em detrimento da muçulmana” e que estamos perante “um apoio cego a um governo colonizador só porque é judeu”. Não se pode publicar tais afirmações, para mais num jornal de grande circulação, porque as mesmas são totalmente falsas e podem fazer perigar a comunidade judaica portuguesa, que coexiste fraternalmente, há tantos anos, com a comunidade muçulmana, que conta dezenas de milhares de pessoas. Tudo pode ruir com um simples acto desesperado e mal informado.
Acreditamos que não se pode publicar, nem em forma de opinião, um artigo que defende que “o que está a acontecer é mais um Holocausto, só que dos Palestinianos”, que “a Faixa de Gaza é mais um campo de concentração”, que as “pessoas estão a passar por um genocídio” e “ uma limpeza étnica” e que “a Memória do horror do Holocausto judeu está a ser instrumentalizada”. Não se pode publicar afirmações tidas por antissemitas por instrumentos internacionais dos quais Portugal é signatário, uma vez que revelam uma ignorância dolosa do que foi o Holocausto e uma cegueira ideológica que premeia o terrorismo do esquartejamento que persegue o povo judeu desde o deserto e que se repetiu em 7 de outubro.
Igualmente não se pode publicar, nem em forma de opinião, um artigo que defende que “a História é escrita por quem tem mais poder económico”, que “a colonização só pode acontecer com capital”, que “o capital silencia, o capital encobre, o capital coloniza”, que “as forças israelitas estão a ser apoiadas pelos gigantes EUA, por grandes empresas, grandes marcas, e pela Comissão Europeia” e que “a capacidade económica se reflete na forma como os acontecimentos são noticiados nos canais de media e nos discursos políticos pró-Israel”. Num texto eivado de referências espúrias relativamente à religião judaica, aos judeus e ao Holocausto, não se pode publicar afirmações que relacionam os judeus e o estado de Israel com os velhos mitos antissemitas do poder, do dinheiro e do controlo sobre a comunicação social.
Agradecemos que esta carta seja publicada.
Porto, 14 de novembro.
O Presidente,
Gabriel Senderowicz
C.c. Embaixada de Israel em Portugal e ao Centro Islâmico do Porto.