Entramos no ano de 5785. De acordo com a tradição judaica, a mais pura alma humana - a Neshamá - surgiu há cerca de seis milénios.
A humanidade já então conhecia uma história muito antiga de centenas de gerações de hominídeos, como ensinava Maimónides no seu "Guia dos Perplexos".
Quem hoje entrar num lar judaico encontrará um ambiente muito especial. A mesa posta com maçã com mel e pão redondo recheado com passas anuncia Rosh Hashaná, o ano novo judaico. Começará hoje ao entardecer e acabará depois de amanhã, na segunda noite do mês hebraico de Tishrei.
As pessoas saúdam-se dizendo "shaná tová umetuká", ou seja, um ano bom e doce, o que é notório nos alimentos adocicados, cuja expectativa é atrair bons presságios. Os serviços religiosos incluem o toque do "Shofar" (chifre de carneiro) que lembra o som que presidiu a receção da Torá no Monte Sinai, ecoa os clamores dos profetas, retrata o quase sacrifício de Isaac, dá-nos esperança na vinda de um Príncipe da Paz e lembra a coroação do Eterno como rei do Mundo.
Paralelamente à doçura que o acompanha, Rosh Hashaná é também o dia do julgamento. O homem enfrenta não apenas o julgamento divino como também o seu próprio. Antes de procurar conquistar o Mundo, cada qual deve conquistar-se a si mesmo, para que possa tomar as decisões corretas para o ano vindouro.
Rosh Hashaná exige uma profunda autoavaliação de todo o ser humano, que é a coroa da Criação e não apenas uma realidade paralela às que existem nos reinos animal, vegetal e mineral. O desperdício de vidas enredadas em vícios como a ociosidade, a vaidade, a inveja e a má-língua não pode deixar de ser censurado.
Qual o nosso papel na Criação que não cessa? Seremos bons filhos, bons netos, bons pais, bons amigos e pessoas úteis e bondosas para com os nossos semelhantes?
Um dos grandes sábios do povo judeu - rabi Menachem Mendel Schneerson -, que graças à neutralidade de Portugal na II Guerra mundial pôde passar por Lisboa rumo à salvação nos Estados Unidos da América, nunca deixou de lembrar, nos dias de Rosh Hashaná, que um verdadeiro ser humano existe quando as suas atividades evidenciam o seu intelecto e as suas qualidades espirituais.