Pessach, da escravidão à Terra Prometida

Os judeus comemoram Pessach (Páscoa) entre 22 a 30 de abril. A festa marca uma epopeia inesquecível para toda a humanidade e a maior série de milagres já experimentada na história. Muitos conhecem a libertação do povo judeu do Egipto, a chegada ao Monte Sinai de uma multidão de escravos, os 40 anos no deserto e a chegada a Canaã, a Terra Prometida, de onde brotava leite e mel. Desconhecem talvez que aqueles escravos, que se tornaram judeus no sopé do Sinai, há 3300 anos, não eram apenas os hebreus, mas também, em grande maioria, homens e mulheres de todas as nações, de todas as etnias. O racismo jamais fez parte da história do povo judeu, que oferece traços típicos da maioria dos povos.

Durante a semana de Pessach é proibido comer massas fermentadas. A todo o momento é recordado o pão ázimo que os hebreus comeram precipitadamente e à pressa quando deixaram o Egito. Não é possível tão-pouco possuir um grão fermentado, de alimento ou bebida, que contenha trigo, cevada, centeio, aveia, espelta ou seus derivados. Isso inclui pão, bolo, biscoitos, cereais, massas e a maioria das bebidas alcoólicas. Livrar as nossas casas dessa "chametz" é um processo intensivo que começa bem antes da semana festiva.

A refeição das duas primeiras noites toma o nome de Seder. Esta palavra é das mais significativas que podemos alcançar na existência humana: significa Ordem. Um banquete repleto de rituais ritmados pela recitação da Hagadá, uma liturgia com uma antiguidade superior a dois milénios que descreve em detalhe a história do Êxodo do Egito. A cerimónia demora horas. As crianças olham umas para as outras na esperança de fazer o tempo passar mais rápido. Impacientes, questionam os adultos a cada minuto: quando poderemos comer? Muitos detalhes do cerimonial têm justamente em vista acalmar as crianças e fazê-las aguentar tantas horas sentadas à mesa.

Assim é o lar judaico nas noites do 15.º e do 16.º dia do mês de Nissan. A refeição engloba o consumo de matsá (pão ázimo), de ervas amargas (para comemorar a amarga escravidão de outrora) e de quatro copos de vinho para celebrar a liberdade. Há ainda porções de alimentos simbólicos que lembram a argila usada nas construções, as lágrimas do povo hebreu, o dever de não esmorecermos diante das adversidades e o poder de Deus.

Nos últimos dias da festa, é costume rezar em memória dos familiares falecidos. Em nós estão codificadas as suas vidas que devemos honrar. O povo judeu aprendeu há milênios que a liberdade não é concedida, mas fruto de muita luta - e ela está sempre sob ameaça. Como disse Hilel, um grande sábio do Talmude: "Se não eu por mim, quem por mim? Se eu for só por mim, quem sou eu? Se não for agora, quando?"

Celebremos a liberdade conquistada. Hoje honremos Pessach no local onde estivermos. Em relação ao próximo ano, prometamos que nos reuniremos na capital espiritual do judaísmo mundial: Jerusalém.

Créditos: Diário de Notícas