A agência de notícias de Portugal – Lusa – manipula comunicados oficiais das Comunidades Judaicas de Lisboa e Porto

A agência de notícias de Portugal – Lusa – manipula comunicados oficiais das Comunidades Judaicas de Lisboa e Porto

Uma organização brasileira que serve “descendentes de judeus” que não são judeus de acordo com nenhuma tendência do judaísmo, por mais liberal que seja, e que há sete anos trabalham exclusivamente com a Comunidade Israelita de Lisboa para a obtenção de certificados de sefardismo, lançou no Youtube um vídeo intitulado “Antissemitismo em Portugal em 2022 contra os povos descendentes de judeus sefarditas”.

O vídeo critica a nova regulamentação da lei da nacionalidade portuguesa, que faz exigências difíceis de cumprir pelos descendentes de judeus sefarditas. No vídeo pode-se ler designadamente “Portugal diga não à nova regulamentação”, “Portugal diga não ao antissemitismo”, “Portugal diga não à nova forma de antissemitismo contra descendentes de judeus sefarditas em 2022 em Portugal”.

Em 29 de junho, a respeito de tal vídeo, a Comunidade Israelita de Lisboa emitiu um comunicado no qual refere que “as especificidades do processo legislativo não podem ser confundidas com acusações infundadas de antissemitismo”, dado que este é “um assunto demasiado sério para ser banalizado e utilizado sem fundamento”.

As palavras Porto e comunidade judaica do Porto não aparecem no comunicado da Comunidade Israelita de Lisboa. No entanto, obedecendo a interesses estranhos ao bom jornalismo, a agência Lusa divulgou uma notícia por todo o país com o seguinte título: “Comunidade Israelita de Lisboa diz que acusações de "antissemitismo" e "terrorismo" da Comunidade do Porto são "contraproducentes"

E a notícia prossegue com calor:

"A Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) refuta as acusações de antissemitismo feitas pela Comunidade Israelita do Porto (CIP) ao Estado Português no parecer enviado para a Assembleia da República sobre as propostas de alteração da Lei da Nacionalidade.

A CIL salienta que “o antissemitismo é um assunto demasiadamente sério para ser banalizado”. Para a CIL, estas acusações revelam-se “contraproducentes e desprovidas de sentido”, acrescentando que “não são aceitáveis no atual quadro de discussão legislativa, que deve ser feito com elevação e com respeito” e cuja discussão o organismo lisboeta entende merecer um “escrutínio reforçado”.

Sobre a evolução do processo legislativo, a CIL reitera que os procedimentos que se seguem na reformulação do decreto-lei “não podem, nem devem, ser confundidos como perseguição, preconceito, hostilidade ou discriminação em relação aos judeus especificamente”.

A comunidade de Lisboa, que em 2020 estava “assustada” com um “ambiente social de caso Dreyfus” e com um caso de “puro antissemitismo religioso” a fazer lembrar "a ‘Invasão dos Judeus’” (um livro antissemita de 1924), não poderia, em 2022, ter posição radicalmente oposta, sobretudo depois da vaga terrorista que aconteceu contra a comunidade mais forte de Portugal, montada por agentes de estado com base em denúncias anónimas, que incluíam acusações de corrupção no caso Patrick Drahi certificado correctamente pela comunidade de Lisboa há sete anos.  

Certamente o jornalista sabia que, em 2020, num congresso da SEDES, o mais distinto membro e ex-represidente da comunidade judaica de Lisboa afirmou que o debate sobre a lei da nacionalidade tinha descido tão baixo quer era um caso de “puro antissemitismo religioso” a fazer lembrar "a ‘Invasão dos Judeus’” (um livro antissemita de 1924). Mais tarde acrescentou em livro que os judeus até foram comparados a vírus, porque se multiplicavam muito.    

No meio de tanta manipulação do jornalista da Lusa, foi totalmente esquecido o vídeo da organização do Brasil intitulado “Antissemitismo em Portugal em 2022 contra os povos descendentes de judeus sefarditas”.

A Comunidade Judaica do Porto não foi ouvida pelo autor da notícia.

Mas pior.

Em 30 de junho, quando a notícia falsa da Lusa já estava disseminada em Portugal, a Comunidade Judaica do Porto emitiu ela própria um comunicado, que enviou àquela agência.

A mesma Lusa que manipulara o comunicado da CIL para dizer à força que esta entidade rejeitava as acusações de antissemitismo da comunidade judaica do Porto, manipulou também o comunicado da Comunidade Judaica do Porto ao não transmitir as suas ideias-chave, designadamente as seguintes:

1) Em 2020, o digno Presidente da CIL escreveu à CIP/CJP sobre um "ambiente social similar ao caso Dreyfus" que se vivia em Portugal, e a responsável pelo departamento de certificação de sefardismo da CIL durante anos confessava estar "muito assustada" com o que estava a acontecer e com a falta de respostas do governo às comunidades judaicas portuguesas.

2) Em 2022, o Governo publicou um novo regulamento da nacionalidade numa época em que reinava uma enorme suspeição, criada artificialmente contra a Comunidade judaica mais forte de Portugal, por agentes de Estado que quiseram fazer passar o diploma sem enfrentar a resistência de personalidades comprometidas com a tentativa de religar Portugal à diáspora de origem sefardita.

3) A Comunidade Judaica do Porto é a mais forte comunidade judaica portuguesa e integra centenas de famílias expulsas dos países árabes, um grande número de vítimas da Shoá, tem um museu do Holocausto, ministra cursos para professores e recebe anualmente mais de 40 mil crianças de escolas, num trabalho global que é único na Europa no combate ao antissemitismo.

COMUNICADO NA INTEGRA

- DO ANTISSEMITISMO

1) O medo do antissemitismo em Portugal foi revelado, em 2020, pelo digno Presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, que escreveu a um dirigente da CIP/CJP sobre um "ambiente social  similar ao caso Dreyfus", e pela responsável pelo departamento de certificação de sefardismo da CIL durante anos, que se confessava "muito assustada" com o que estava a acontecer e com a falta de respostas do governo às comunidades judaicas portuguesas. O que se refere está documentado.  

2) A Comunidade Judaica do Porto, ao contrário de inúmeras  comunidades mortas na Península ibérica, integra centenas de famílias expulsas dos países árabes, um grande número de vítimas da Shoá, tem um museu do Holocausto, ministra cursos para professores e recebe anualmente mais de 40 mil crianças de escolas, num trabalho global que é único na Europa no combate ao antissemitismo.

3) A Comunidade judaica do Porto é a mais forte comunidade judaica portuguesa a todos os níveis: religioso, cultural, filantrópico, educativo e organizacional.  

4) A Comunidade Judaica do Porto nunca comentou o novo regulamento da nacionalidade, não tem interesse em debater as possíveis alterações da lei e há muito suspendeu o trabalho de certificação que realizava. O motivo foi a campanha antissemita que lhe foi dirigida, a qual já está musealizada (para consumo de escolas e turistas) e no futuro, quando o quadro legal o permitir, será amplamente documentada, com factos, documentos, fotografias e protagonistas.

- DO ESTADO SOBERANO

5) O Estado português é soberano para produzir as alterações legislativas que julgue adequadas a qualquer altura. A Comunidade Judaica do Porto sempre se limitou a dar sugestões, como aconteceu em 2020 e 2021, quando sugeriu ao Ministério da Justiça que o regulamento então em aperfeiçoamento contemplasse uma ligação mais atual dos requerentes a Portugal e também que o trabalho de certificação ocorresse numa plataforma a que a Conservatória dos Registos Centrais tivesse acesso em tempo real e pudesse participar no momento da decisão. Caberia ao Estado a última palavra.

6) Em 2022, o Governo publicou um novo regulamento da nacionalidade numa época em que reinava uma enorme suspeição, criada artificialmente contra a Comunidade judaica mais forte de Portugal, por agentes de Estado que quiseram fazer passar o diploma sem enfrentar a resistência de personalidades comprometidas com a tentativa de religar Portugal à diáspora de origem sefardita.

- POR FIM O VÍDEO

7) O vídeo referido no comunicado da CIL (da autoria de alegados “descendentes” de judeus que jamais foram ou poderiam vir a ser certificados pela CIP/CJP) põe erradamente a tônica na palavra antissemitismo, usada literalmente em vão por quem comenta alterações legais legítimas de um Estado de Direito e que, em rigor, para obter a nacionalidade portuguesa, não beneficia do regime jurídico atinente aos judeus de origem sefardita, mas sim de um outro normativo específico para os descendentes de cidadãos portugueses em geral.