Porque “Não” à retórica “do Rio ao Mar”?

No seu texto, expresso a 13 de novembro, Clara Não faz jus ao seu apelido, como ativista da linha de Arafat e dos seus “Nãos” de Cartum, de 1967. Não ao reconhecimento de Israel, não a negociações e não à paz. Remete o leitor para justificar a “invasão embelezada à força” de Israel” de 7/10 com base na força da “Preferência pela religião judaica em detrimento da muçulmana”, que é imperioso contrariar, pela base e pelo estilo da argumentação. A liberdade de opinião é essencial em democracia, mas esta não pode residir apenas em opiniões preconceituosas xenófobas que, além de não terem fundamento, não são permitidas pela nossa lei. O “acho que é assim porque me apetece” é uma agenda que não pode passar em branco sem o contradito da reposição da verdade. Se “Não”, vejamos: diz que não é sobre o Hamas mas sobre os Palestinianos. Mas quem são os “Palestinianos”? O termo é uma associação dos gregos à Filistia, os 5 entrepostos/feitorias de europeus “estrangeiros”, como os definiu Heródoto, ao localizá-los na costa sul de Canaã (Levante), conhecidos assim pelos gregos pelo comércio que ali faziam. “Palestinianos” não existiam em Canaã, nem nunca existiu ali um estado Palestiniano reconhecido por qualquer historiografia e sim Filisteus, que se evaporaram com as invasões Assírias e Babilónica, nos séc. VII e VI a.e.c. No Corão, o termo usado para os autóctones Fellahin (os camponeses e os seus inimigos históricos, os beduínos nómadas árabes, pertencentes ainda hoje a subdivisões de 3 confederações de tribos: os Al Tayaha, os Al Azazmeh, e os Al Tarabeen) é: Jabarin “pessoa com grande força”, sem especificar território. Yasser Arafat argumentou que os árabes palestinos poderiam traçar as suas origens até os antigos jebuseus (os naturais de Jerusalém, embora ele fosse de uma família do Cairo) e que a invasão dos judeus começou em 1881 (reportando-se à imigração de russos fugidos dos pogroms antisemitas). Os livros didáticos da Autoridade Palestina, em 2000, propõem que os antigos cananeus, desde tempos imemoriais, “eram árabes e foram os primeiros a viver e prosperar na Palestina”. O Bin Laden na sua “Carta à América” (2002) diria que “são os Muçulmanos os herdeiros de Moisés, e da verdadeira Torah, que não foi alterada (...). Se foi prometido aos seguidores de Moisés o direito à Palestina na Torah, então os Muçulmanos são a nação mais digna [sublinhado do autor] para tal”. Em março de 2012, o Dr. ‘Amer Ju’āra da Universidade Al-Najāḥ, em Nablus, repetiu uma antiga afirmação muçulmana de que “foi Mūsa [Moisés] quem guiou os árabes muçulmanos do Egito à Palestina”. Seguindo Mūsa, é claro, os outros heróis bíblicos também eram de facto todos muçulmanos. Daí a Carta da OLP (de 1964 e apenas revista em 1968 e nunca depois) dizer que “A Palestina, com as fronteiras que tinha durante o Mandato Britânico, é uma unidade territorial indivisível.” Escolha curiosa para uma entidade que se reclama nacionalista revolucionária. E incluí a Jordânia também, já que o Mandato da Palestina, desde 1920, a incluía na totalidade? Esta é uma ambiguidade que ficaria para o rei Hachemita resolver, após a saída britânica, até hoje. Historicamente ainda, para além dos filisteus, na região habitavam, no Levante: os Cananeus, os Sidónios e os Heveus (Drusos), que viviam no Monte Líbano; ficando, a Leste do Jordão: os Aramitas, os Amonitas e os Moabitas e ainda as tribos semi-nómadas do Sul: Amalecitas, Edomitas e Midianitas. Portanto, falar “sobre Israel e sobre a Palestina” é assumir que ambos existem como factos históricos, quando a Palestina é uma construção nacionalista imaginada recente, com base apenas e ainda, lamentavelmente, na oposição a Israel. E quantos são, onde estão os palestinianos? E quem os representa? Os Palestinianos espalham-se entre os árabes que ficaram em Israel (2.2 m.); os da Cisjordânia, área anexada pela Jordânia no fim do Mandato e conquistada por Israel, em 1967; os de Gaza (controlada pelo Egipto, que a perde também nessa Guerra dos 6 Dias, com 5 governoratos da ANP e, nos últimos 17 anos, nas mãos do Hamas, tendo um dos seus lideres dito ao canal de TV “RT”, em Outubro de 2023, que 75% dos habitantes de Gaza são refugiados e a ONU que trate deles; há ainda os do Líbano (uns descendentes de refugiados – mais propensos a serem radicais e apoiantes do terrorismo, outros já integrados); os da Transjordânia/Jordânia - East Bank, como a própria rainha Rania; e, finalmente, os da diáspora. E onde ficam as demais minorias muçulmanas não sunitas (circacianos, druzos, salafitas), ou não muçulmanas (judeus autóctones, cristãos maronitas, arménios, católicos, gregos, russos, beduínos animistas, etc.)? E são unidos por um governo nas mãos de quem? Do rei da Jordânia? Da ANP? Do Hamas ou outra Brigada islamista? De uma das lideranças autóctones? Qual delas? das famílias eminentes dos Husseini ou seus velhos rivais Nashashibi, Dajani ou Alami? Ou líderes das outras minorias locais? E estará disposto – algum deles, a abdicar da retórica “do rio ao mar”, com o risco de ser humilhado ou assassinado (por ter reconhecido Israel), como sucedeu com o presidente egípcio, Sadat, em 1981 e com o atentado ao Primeiro Ministro Palestino, pelo Hamas, em 2018? Faça-se uma pergunta simples: o que está em causa ali? É terra (partilhada ou na versão “do rio ao mar”, só para o domínio de uns e morte aos outros)? São os Colonatos (já alguns retirados por Israel, como de Gaza, desde 2005 e outros em expansão, mas que retirarão no minuto em que os Palestinianos todos e sem atentados, anunciarem o reconhecimento de Israel)? Apartheid (colagem abusiva de uma política institucionalizada pelo governo na África do Sul e que em nada reflete nem a Declaração de Independência ou a legislação Israelita, nem a vida multicultural de Israel? A existência de um estado palestiniano? Este só não existe porque foi sempre rejeitado pelos árabes, desde a Declaração de Balfour (1917) e da partilha, desde 1920, de um Estado Judaico ao lado de um Estado Árabe (que se auto-apelidou de Palestiniano, a partir de 1968), por conta da narrativa maximalista de que este tem de ser “do rio ao mar”. Israel sabe que tem de lidar com esta retórica antissionista da sua aniquilação, uma ideia que nenhum israelita pode atirar para canto, com a mesma facilidade com que o fazem os cidadãos do “Não”, que andam nas ruas e redes sociais, ou os jornalistas e comentadores estrangeiros no Ocidente. Enquanto houver apoio a esta retórica dos “Nãos”, posta em ação em nome de uma “resistência” financiada por e com lideres milionários, nas mãos de movimentos islamistas terroristas que visam o Califado com a Sharia global em mente (extensível não apenas até àquele mar), enquanto se apoiarem e financiarem em biliões, instituições como a ONU e suas 3 agências exclusivas para a cause célebre dos Palestinianos, desde 1949, com o discurso do ideal de “retorno” dos “refugiados” (já de 5ª geração dos deslocados, ou já cidadãos de ou noutros estados, ou pessoas que nunca saíram das suas casas), enquanto não se olhar para o que estão a fazer os demais estados árabes, que percebem que já não precisam do discurso antissionista para se afirmarem como atores independentes, com uma identidade construída própria, e que se querem focar no seu próprio desenvolvimento, e normalizam um a um, as relações com Israel, poderão até haver muitas negociações e resoluções do conflito, mas não haverá a transformação do conflito em paz duradoura.