A condenação tem de ser firme e sem adversativas. Os hediondos crimes contra a humanidade cometidos em Israel confirmam a natureza terrorista do Hamas. Com que justificação se mata deliberadamente e a sangue-frio crianças, mulheres e homens indefesos? Por serem judeus? Porque estão no sítio errado? Para dar o exemplo? Para gerar o terror? Para provocar uma guerra apocalítica? As imagens perturbantes com que fomos confrontados revelam a completa desumanização das vítimas e a lógica terrorista na sua máxima expressão. Os fins (mas quais fins?) justificam quaisquer meios.
Israel tem o direito de se defender. A defesa não deixa de ter sentido por a agressão já se ter consumado (abstraindo da dramática situação pendente dos reféns). Os atos terroristas do Hamas não surgem como fenómeno isolado e irrepetível, inserindo-se numa sequência que prenuncia, para além de qualquer dúvida razoável, novos atentados num futuro próximo. Assim, está presente a justificação de uma defesa preventiva. Trata-se de evitar esses atentados, utilizando os meios que se afigurem necessários, adequados e proporcionados para anular a capacidade de os levar a cabo.
A guerra só é “justa” se puder ser classificada como defensiva. É irracional pensar que força e razão coincidem sempre ou na maioria dos casos. Todavia, a própria guerra defensiva está sujeita a regras. Não matar deliberadamente populações civis nem utilizar armas proibidas pelo Direito Internacional ou meios cruéis (como a tortura) são, sem dúvida, proibições decorrentes dessas regras. Numa guerra, são sacrificados sempre membros da população civil, mas tal sacrifício só é desculpável se for consequência colateral e não intencionada de uma ação contra alvos militares.
Israel tem um desafio complexo pela frente. Cabe-lhe responder com eficácia ao ataque de que foi alvo, sem cair na tentação de matar indiscriminadamente a população palestiniana da faixa de Gaza. Se o fizer, os terroristas do Hamas terão alcançado (talvez com premeditação) uma segunda vitória não menos importante do que a conseguida graças ao seu ataque criminoso. Para além de injusta, essa resposta seria contraproducente, por identificar o Hamas com o povo palestiniano, contribuindo para descaraterizar aquela organização terrorista: afinal, não há povos terroristas...