O massacre em sete de outubro na fronteira de Israel e Gaza é um divisor de águas na compreensão do mundo contemporâneo.
O apoio declarado ou a simpatia envergonhada de governos, partidos e instituições ao terror e à violência sádica contra civis prenuncia o fim da civilização como conhecemos.
Mais uma vez na história da humanidade, o povo numericamente insignificante vivendo num país territorialmente minúsculo ou espalhado na diáspora - o povo de Israel - se encontra no centro dos acontecimentos que definem e iniciam uma nova era.
Freud disse, certa vez, que os judeus, por personificarem a lei, a ética e a justiça desde os primórdios da civilização (Torá e decálogo) são apontados e vistos com ódio e desprezo por todo aquele em quem a vontade de dominar, delinquir e matar habita sua vida instintiva, ainda que de forma reprimida. Os judeus seriam os arquétipos da consciência moral do mundo, o superego vigilante, os que sabem da natureza do mal e por isso representam a interdição do gozo perverso que age ou gostaria de agir sem remorso ou sentimento de culpa.
Os judeus assumem esta função normativa para o mundo inteiro?
Eles se consideram portadores da tarefa de modelar a humanidade?
Claro que a resposta é não!
Nunca foram proselitistas, catequizadores e conversores à força como no cristianismo e no islamismo.
A perseverança no monoteísmo, na proibição de imagens, na obediência aos mandamentos e na teimosa recusa em adotar novas crenças e abandonar os patriarcas para venerar outros profetas (Jesus e Mohamad), foi tudo isto que colocou o "judeu", sem desejar este papel, como aquele ente externo que, incorporando a divindade no imaginário das nações, vigia e inibe os seus atos.
É desta forma que o imaginário coletivo vê o judeu.
Por tudo isto ele deve ser destruído. Eliminá-lo, ainda que de forma simbólica, transforma o homem inimputável, senhor absoluto da fruição dos desejos, qualquer desejo.
Sei que se trata de uma forma rebuscada de qualificar e explicar o antissemitismo ou judeofobia. Existem muitas outras, porém reputo o insight freudiano como abrangente.
Esta conclusão certamente causará no leitor um sentimento de desconforto e contrariedade pela percepção da arrogância e da exagerada importância no texto sobre o papel do ethos judaico nos acontecimentos universais.
Compreende-se que o leitor, principalmente aquele com pensamento concreto e pouco familiarizado com abstrações intelectuais, considere minhas conclusões como total estupidez.
Para este leitor contrariado, cético e discordante eu pediria que explicasse por que egipcios, depois assírios, depois persas, depois seleucidas, depois romanos, depois a igreja, papas, cruzados e reis, depois o nazismo, depois o comunismo, entremeados por perseguições, progrons, fogueiras, confinamentos e proibições, enfim, por que os grandes poderes da história procuraram exterminar ou anular o judaísmo se tal cultura ou religião não teve ou não tem quase nenhuma importância para o destino das nações, ideologias e indivíduos? E não apenas os grandes poderes ou sistemas políticos mas sobretudo a pessoa comum dá ao judeu uma atenção exagerada, desproporcional, muito além da sua significância na história e na contemporaneidade. Além de tudo, como este descrente explica as brutais perseguições e exílios forçados para um grupo humano tão pequeno e que nunca ofereceu risco bélico, ameaçou, lutou ou devastou qualquer nação ou império?
Ouso dizer que é porque o judaísmo não é um poder material e sim uma ideia.
Uma ideia moralmente ameaçadora.
Que evidência adicional o incrédulo necessita para se convencer da vontade de extermínio contra judeus?
Basta comparar o tratamento assimétrico "benevolente" que a Rússia, já com dimensões continentais, recebe do resto do mundo, inclusive do Brasil, mesmo sendo a agressora expansionista brutal, atuando sem provocação contra os ucranianos, observando-se, por outro lado, maciços protestos com ódio e violência em todas as capitais do mundo das multidões contra a auto-defesa de Israel, que foi invadido e seus habitantes massacrados, e quase nenhum protesto contra a poderosíssima Rússia que foi a agressora.
Mas voltemos às razões do porquê a guerra contra a bestialidade terrorista definirá o mundo daqui para frente.
Tudo que até então estava disfarçado como progressista, humanitário, tolerante, justo e solidário ruiu, desmoronou com a contradição, seletividade moral e relativismo da maior parte dos iluministas modernos. O mesmo mecanismo mental que reprimia da mente o antissemitismo latente, substituindo esta má-consciência por auto-enganos como o amor a Cristo, o amor à raça, o amor ao estado-nação ou o amor ao coletivismo marxista, agora exerce sua função psíquica enganadora para negar a tirania, opressão, homofobia, violência sádica, escravidão de mulheres e promessas genocidas dos terroristas palestinos. E atacam e vilanizam aquele que combate este mal absoluto.
A mudança que está iniciando é a do desnudamento, do desvelamento da hipocrisia dos salvadores do mundo.
Os progressistas sempre se associaram ao que existiu de mais cruel, tirano e opressor na história, passando pelo terror jacobino, pelo stalinismo e pelas ditaduras anticolonialistas. Ainda que contabilizassem milhões de mortos e legiões de prisioneiros nos gulags, o esquerdismo ideológico se revestiu de santidade pois o objetivo final era a redenção do homem e a abolição dos grilhões da antiga ordem econômica e social. Eliminar reacionários e cancelar os dissidentes sempre foi visto como virtude pela moral progressista e aceita pelo resto da sociedade.
A verdadeira natureza da esquerda ideológica está sob a luz dos holofotes. Não engana mais ninguém após se associar, aplaudir e apoiar a perversidade absoluta e incontestável dos islamo-fascistas.
Restou evidente que a bondade humanista misericordiosa universal sempre foi uma farsa. O objetivo e o desejo de destruir a cultura e a civilização ocidental por dentro sempre foi maior do que garantir a inviolabilidade de países democráticos como Israel, de proteger as fronteiras de nações como a Ucrânia contra colonialistas russos, de defender civis contra o terror, de sustentar as bandeiras antiracista, anti-homofobia e antimisoginia como princípios invioláveis. Era tudo cortina de fumaça. Artifícios para encobrir o desejo de controle e dominação. Propaganda cultural gramsciana ou goebeliana para enganar e arregimentar ingenuos, ressentidos e fracassados.
A inconsistência histórica da praxis do experimento coletivista em conseguir transformar o mundo, levou seus ideólogos a se agarrar ao último bastião de resistência da luta anti-ocidental - os terroristas islâmicos - os únicos fanáticos e sem apreço à vida para fazer o trabalho sujo que a esquerda ideológica não tem coragem para fazer.
Como escrevi: tudo ruiu. A judeofobia latente associada à certeza que os proxies da esquerda, isto é, os terroristas do hamas e da jihad islâmica, seriam totalmente destruídos (como está acontecendo) pelas forças de defesa de Israel após a barbárie de 07/10, fez com que os intelectuais e políticos progressistas tirassem a máscara e a fantasia da bondade e defendessem e festejassem estupros, decapitações, vazamento de olhos de pais na frente de crianças, fuzilamento de jovens dançarinos, cozimento de bebês em micro-ondas e sequestros de não combatentes.
Portanto, lamentavelmente teve que acontecer a barbárie inominável para que o mundo pudesse conhecer os inimigos, agora declarados e sem pudor, da sociedade aberta e livre. O terrorismo e seus aliados da esquerda mundial estão expostos. A fraqueza, inconsistência moral e covardia, agora não mais encobertas pelo falso manto das boas intenções, fará a luta dos direitos civis contra os totalitários muito mais fácil, pois conhecemos melhor os inimigos da civilização.